Violência contra a mulher e Eduardo Cunha: as mulheres foram às ruas dizer não!

O ato reuniu feministas de diversos coletivos, partidos e grupos culturais de Belém (Foto: Rafael Monteiro)
“A realidade de extermínio das mulheres, em especial as negras, não pode ser ignorada. Seja com agressões ou com a falta de políticas públicas que busquem oferecer tratamento e direitos iguais à mulheres, a violência é uma realidade do Estado. É necessário ir às ruas para mostrar que não vamos aceitar essa situação”. O pensamento de Antônia Luzia, funcionária pública de 52 anos, foi compartilhado pelas dezenas de pessoas que ocuparam as avenidas Nazaré e Magalhães Barata, no centro de Belém, durante o 2° Grande Ato contra Cunha e pela Vida das Mulheres, que ocorreu na noite desta quarta-feira, 25.
As manifestantes, formadas principalmente por mulheres e por membros de movimentos políticos, se concentraram a partir das 17h no Centro Arquitetônico de Nazaré – o CAN, iniciando então a tomada das ruas no cortejo rumo ao mercado de São Brás. Bandeiras, faixas e palavras de ordem eram compartilhadas pelas participantes, que buscavam dialogar com a população presente sobre a necessidade do ato.
O Brasil subiu da sétima colocação para a quinta entre os países que mais matam mulheres. Em média, 13 por dia, além das cinco mulheres agredidas a cada dois minutos.
“Hoje é celebrado o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, mas fazemos esse ato para mostrar o quanto o país está atrasado nesse sentido”, continuou Antônia. E ela tem bons argumentos: segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil subiu da sétima colocação para a quinta entre os países que mais matam mulheres. Em média, 13 por dia, além das cinco mulheres agredidas a cada dois minutos.
Outro ponto de destaque da manifestação foi a saída do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e a rejeição do Projeto de Lei 5.069, que impõe restrições a procedimentos abortivos, incluindo o uso da pílula do dia seguinte. “Um homem branco, cisgênero, hétero e cristão não pode impor sua vontade contra as mulheres. Principalmente um homem envolvido em tantos crimes”, afirmou a estudante Larissa Dias, de 19 anos. “Temos que ir para as ruas. Se empurrar, o Cunha vai cair”.
O cortejo seguiu pelas vias da capital paraense, sempre levantando casos e questões sobre a violência, em especial no caso de negras, moradoras da periferia, lésbicas e mulheres trans, até chegar ao seu ponto principal, em frente à Seccional Urbana de São Brás. Lá, bonecas encobertas com lençóis foram colocadas nas ruas, em memória às vítimas da violência no Pará.

Em frente à Seccional Urbana de São Brás, uma mística rememorou mulheres assassinadas no Pará
(Foto: Rafael Monteiro)
“Maria,39 anos, morta estrangulada pelo ex-marido em Belém”, falavam no megafone. “Luzia, 25 anos, morta a facadas em Itupiranga”. Cada nome e história faladas eram sentidas por todas as presentes, que acompanhavam o ato em silêncio. “Mulher desconhecida, com idade entre 25 e 30 anos, encontrada morta a facadas no bairro da Marambaia”.
“O Pará conta com cinco casas abrigo, 16 delegacias da mulher e nove varas de Justiça para crimes contra a mulher. Jatene e prefeitura são omissos“, disse Gizelle Freitas, participante do ato.
A manifestação encerrou em frente ao Mercado de São Brás, onde os participantes realizaram uma roda de batuque. “O governo Dilma investiu, em média, R$0,26 em cada mulher. O Pará conta com cinco casas abrigo, 16 delegacias da mulher e nove varas de Justiça para crimes contra a mulher. Jatene e prefeitura são omissos. A PL 5069 é um ataque. A violência é real. As mulheres precisam se unir, junto com os homens, impor uma mudança nesse cenário. É necessário que se faça o coletivo contra estes atos”, completou Gizelle Freitas, participante do evento.
Cada uma das presentes se fez ouvida no ato, deixando a mensagem de que a violência é real, mas que a busca pelo seu fim também. O silêncio sobre o assunto, pelo menos, não existe mais. E nunca irá retornar.