O modo como é contada a história de uma cidade constrói sempre um discurso intencional, que reflete a tomada de posicionamentos de quem conta. Em Belém, basta que olhemos as placas de ruas e monumentos para constatar que aqui são privilegiados os militares, governantes e colonizadores. Para fortalecer o lado dos silenciados pelo discurso oficial, a Associação dos Indígenas da Metrópole de Belém (AIAMB) realizará uma reunião amanhã, 12, às 9h, na Faculdade Estácio do Pará (FAP), para discutir a construção da Aldeia Urbana, um centro cultural que deverá ser pioneiro no Brasil.
“Nós somos um movimento social, por isso o nosso papel é sempre olhar o outro lado. Existem muitos monumentos que lembram os colonizadores. Nosso objetivo é mostrar a cultura indígena que está na cidade e a cidade desconhece”. É assim que Miguel da Silva Guimarães, presidente da AIAMB e membro da etnia Tembé Tenetehar, inicia sua fala em uma tarde chuvosa na capital paraense. Para ele, o surgimento da Aldeia Urbana será um ato de resistência da associação dos indígenas em Belém, já que na lembrança dos 400 anos da cidade a matança cometida pelos europeus não foi lembrada em nenhuma ação da prefeitura.
presidente afirma que há 15 mil indivíduos indígenas, embora o Instituto
Brasileiro de Geografia (IBGE) divulgue dados diferentes.
Segundo Miguel, o Pará é o estado brasileiro que possui o maior número de indígenas, que estão distribuídos em 67 etnias, por isso é necessário que mais políticas sejam realizadas neste campo. Na área metropolitana de Belém, o presidente afirma que há 15 mil indivíduos indígenas, embora o Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) divulgue dados diferentes. “Eles possuem critérios diferentes, essa é a razão de eles falarem em 8.300 indígenas na área metropolitana. Para eles, por não estarmos mais em terras indígenas ou não falarmos mais a língua deixamos de ser índios”, critica.
A AIAMB possui hoje representantes das etnias Munduruku, Tembé Tenetehar, Guajajara, Maracajá, Aruã, Kambeba e Karipuna. Foram eles que chegaram ao consenso de que a Aldeia Urbana deva ser um espaço de acolhimento e divulgação das culturas a ser construído onde hoje está o Memorial dos Povos Indígenas, no Complexo do Ver-o-rio. “O Ver-o-rio foi completamente abandonado pelas últimas administrações da prefeitura. O memorial foi um local pensado para abrigar apresentações mas ficou em desuso por conta da falta de manutenção e pela dificuldade de transporte dos indígenas”, relata.
O projeto
A reunião de amanhã, na FAP, reunirá movimentos sociais para debater a melhor forma de transformar a Aldeia Urbana em realidade, mas alguns pontos já foram acordados pelos indígenas da associação. De acordo com o pré-projeto divulgado com exclusividade ao Outros 400, o espaço deverá ser um centro para apresentação de danças, confecção e venda de artesanatos e um local de morada para estudantes indígenas. O lugar abrigará ainda o Museu de arte contemporânea indígena. “Será algo pioneiro no Brasil, não há nenhum tipo de construção dessa no centro de nenhuma capital”, afirma Miguel.
A Aldeia ocupará uma área de 500 m² e deverá possuir o formato de um cocar, pelo fato de este ser um artefato comum a todas as etnias, de acordo com a AIAMB. Já o custo da obra está orçado em um milhão e duzentos mil reais, mas a resposta por parte do poder público sobre o financiamento ainda não foi dada. Miguel relata que “há dois meses a associação aguarda um posicionamento do Governo do Estado para uma reunião, mas nenhuma resposta foi dada”.
Para obter mais informações sobre o projeto, basta enviar um email para AIAMB, no endereço aiamba.pa@gmail.com, ou telefonar para 989191107 ou 992065627.