O ativismo paraense ganha uma nova iniciativa nos meios digitais, a organização Minha Belém. De caráter apartidário, o grupo utiliza a internet como campo de reivindicações políticas.
Imagine uma obra inacabada ou um serviço que deixou de ser prestado em Belém, seja pela prefeitura, governo do Estado ou algum órgão federal. A população busca uma solução: é preciso pressionar os tomadores de decisão, políticos diretamente envolvidos com o descaso, para que se retome a obra ou serviço. Afora os protestos nas ruas, os debates nas assembleias legislativas e outros modelos tradicionais, há um mundo de possibilidades no âmbito digital: uma saída que pode vir do celular. Dando novo vigor ao ativismo paraense, foi lançada a iniciativa Minha Belém, uma organização que busca ofertar ferramentas digitais para o campo político. Com pautas de luta propostas por cidadãos comuns, a Minha Belém pretende mostrar como pressionar políticos usando o celular e o computador. Imaginou uma obra? Bem que podia ser a conclusão do BRT.
Os jornalistas Pedro Cruz e Alexandre Gibson desenvolvem ferramentas digitais como forma de mobilização social (Foto: Klewerson Lima)
A iniciativa se inspirou em outras organizações, como a Minha Sampa (SP) e Minha Jampa (João Pessoa-PB) e, teve como interlocutores, dois jornalistas que viram a possibilidade de transformar a realidade de Belém a partir do engajamento político. Tudo a partir do universo digital! “Eu observava os problemas da cidade, vivia e até noticiava, mas não via resolução. Nada era de fato resolvido”, conta o jornalista Alexandre Gibson, um dos fundadores da Minha Belém. “A mobilização estava lá, mas o poder público não se sentia incomodado. Eram mobilizações efêmeras, que surgiam e se perdiam.” Foi a partir desse panorama que ele começou a buscar formas de atuar politicamente. E uma das inspirações foi o Meu Rio.
A falta de resoluções para problemas relativos à cidade foi o que motivou, em primeiro plano, a dupla de jornalistas a trazer a Belém uma iniciativa que já ocorre noutras capitais brasileiras
No mesmo sentido, o jornalista Pedro Cruz, também fundador da Minha Belém, sentia a necessidade de se engajar politicamente ao observar a cidade. “Eu me sentia incomodado com os rumos que Belém tomava”, explica o jornalista. “Era algo como ver a cidade abandonada e não ver as pessoas se organizando para resolver.” A falta de resoluções para problemas relativos à cidade foi o que motivou, em primeiro plano, a dupla de jornalistas a trazer a Belém uma iniciativa que já ocorre noutras capitais brasileiras e que compõem a rede Nossas Cidades. “A Minha Belém é uma ação de ativismo social e digital. Ela utiliza ferramentas digitais, a princípio, para mobilizar a sociedade”, completa Alexandre.
Para materializar objetivos políticos, os jornalistas procuram difundir na cidade duas formas básicas de atuação: a Panela de Pressão e o Legislando, ferramentas digitais para atingir benefícios aos cidadãos. “Na Panela de Pressão, a ideia é lotar de mensagens os tomadores de decisões, com um objetivo definido, seja por Facebook, Twitter ou e-mail”, explica Gibson. Já o Legislando é uma plataforma digital em que cada cidadão poderá acessar e criar um Projeto de Lei, com auxílio de especialistas e informações básicas para a formatação da nova lei. “Aí, então, encaminhamos o projeto popular a um deputado ou vereador que adote a iniciativa. A partir disso, começa a pressão nos demais para a aprovação.”
Segundo Gibson, a proposta pretende se manter apartidária, já que “precisam de autonomia para realizar, pressionar, independente de partidos”. (Foto: Klewerson Lima)
Mas, isso tudo, para o futuro. Neste momento, a iniciativa busca colaboradores. É que, para o ponta pé inicial da Minha Belém, que será formalizada como uma ONG, os jornalistas precisam de R$ 20 mil para aquisição das ferramentas e criação da plataforma. É por isso que eles criaram, no final de abril, uma campanha de financiamento coletivo cujo objetivo é arrecadar os fundos necessários. “Nós, Gibson e eu, somos voluntários. Esse dinheiro é para os custos iniciais do projeto”, esclarece Pedro Cruz. Uma vez definida, a proposta pretende se manter apartidária, já que “precisam de autonomia para realizar, pressionar, independentemente de partidos”, completa Gibson.
“As pessoas podem se engajar, participar politicamente, mesmo sem estar vinculadas a um partido”
A campanha pode ser acessada no site da Minha Belém. Lá, os interessados em doar podem conhecer os detalhes da iniciativa. Aos doadores, além de colaborar com a materialização de ações políticas, há contrapartidas, como adesivos, vagas em workshop e cortesias em restaurantes, além de passeios de caiaque pela orla de Belém e camisas de Remo e Paysandu autografadas por jogadores das equipes. “As pessoas podem se engajar, participar politicamente, mesmo sem estar vinculadas a um partido”, argumentou Pedro Cruz. “As pessoas podem se engajar em causas que estão mais próximas do que elas imaginam.”