O esporte já foi visto pela sociedade como um meio de agrupamento de pessoas que não tinham objetivos e nem expectativas de uma vida profissional ou na busca por uma colocação dentro da pirâmide social. Porém, com a implantação de escolas especializadas, universidades e centros comunitários que tinham como objetivo fazer do esporte um atrativo, esta visão aos poucos foi mudando.
Assim, crianças, jovens e a comunidade em geral começaram a buscar oportunidades dentro da vida social e profissional através da prática esportiva, que se transformou em um meio de conquista e de aceitação pelos valores individuais, independente de religião, situação financeira, cor da pele ou qualquer deficiência. Percebemos aí que a atividade esportiva seria o veículo mais rápido de oportunizar e criar uma autoestima nos seres humanos.
Depois dessa conquista pelo reconhecimento do esporte como profissão, se evidenciou um problema maior que era a aceitação no meio esportivo do sexo feminino. Ainda neste século temos países que bloqueiam a participação feminina no esporte como os islâmicos e da Arábia Saudita. A luta é grande e o sucesso dessa inserção só foi alcançado devido a teimosia de grupos de profissionais e de cientistas do esporte que se juntaram a causa e provaram que mulheres são um grupo vitorioso e de capacidades naturais espetaculares para a prática esportivas. Isso motivou as mulheres a buscar cada vez mais o seu espaço e que a sociedade em geral passasse a ter um respeito não só pela atleta mulher.
Hoje, a mulher administra lar, tem sua vida profissional, pratica esporte, vive do esporte e está ganhando espaço dentro do meio político gerenciando qualquer lugar, seja profissional ou esportivo. Tomo-me como exemplo, ser mulher atleta é difícil principalmente dentro do nosso país. Ser mulher atleta e deficiente, então, é muito mais difícil, porém o esporte ensinou ao segmento de pessoas deficientes que a prática é uma atividade motivadora, competitiva, que soma valores e é capaz de igualar todos os seres humanos, pois o esporte é a base de uma vida sadia e salutar.
Iniciei minha carreira no basquete em cadeira de rodas aos 17 anos, mas antes já praticava vôlei na escola, conheci o basquete através de uma pessoa que já praticava. Foi a primeira vez que tive convívio com outras pessoas portadoras de necessidades especiais.
Nessa época já enfrentava o desafio de estudar e me dedicar ao esporte ao mesmo tempo. Meu pai tentou me fazer desistir do basquete, afirmando que o esporte iria me atrapalhar nos estudos, e não iria me levar a nada! Fui persistente, mesmo não sabendo o que o esporte tinha reservado para mim, me joguei de cabeça, no final do ano provei ao meu pai que ele estava errado, conquistei minha primeira convocação pra seleção, mas no final não pude permanecer na equipe por causa da pouca idade. Já no ano seguinte fui disputar os jogos Paralímpicos em Pequim, e daí em diante não abandonei a seleção.
Ao viajar pra outros países percebi o valor que essas pessoas davam ao esporte. Via o apoio que era dado através de quadras boas pra treinamento e pela grande presença do público. Isso tudo me fazia pensar o porque na nossa cidade era diferente? Em outros países é comum ver quadras maravilhosas pra treinar, aqui é bem raro encontrar uma quadra. Não temos muitos apoios pra seguir na carreira, muitos atletas trabalham e treinam porque não tem como viver apenas do esporte, devido a falta de incentivos.
trabalham e treinam porque não tem como viver apenas do esporte,
devido falta de incentivos.
Outros perdem oportunidades, pois precisariam ir a outros estados para treinar, mas não podem deixar a família e a cidade onde cresceram. Hoje, sou uma atleta profissional, e não ganho muita coisa para isso, mas consigo me manter. Na verdade, posso afirmar que não vivo do esporte, vivo para o esporte. Espero um dia poder viver do esporte realmente! Pois, se para o atletas convencionais já é difícil o apoio, imagina para os competidores de esporte adaptado. Muitos ainda nem tem conhecimento dessa modalidade na sociedade.
As olimpíadas e paralimpíadas estão na porta e mesmo assim não vemos divulgação na cidade, a falta de apoio é muito grande. Hoje, há 94 atletas paralímpicos de esportes individuais contemplados com a Bolsa Pódio, do Ministério dos Esportes, um investimento anual de R$ 14,9 milhões. Por meio no Plano Brasil Medalhas, 60 atletas de modalidades coletivas (vôlei sentado, futebol de 5, futebol de 7 e goalball) também são apoiados.
Eu continuo no esporte porque amo o que eu faço, faz bem pra minha saúde e foi através dele que eu enxerguei a vida de outra maneira. Esporte é minha vida, o All star Rodas (clube ao qual faço parte) é minha segunda família, passo mais tempo lá treinando do que em casa e tenho muito orgulho disso. Mesmo não tendo o devido reconhecimento na cidade, continuamos nosso trabalho e através dele conseguimos resgatar algumas pessoas que acharam que a vida tinha acabado depois de adquirir uma deficiência, e é isso que nos motiva a seguir sempre em frente em nossos objetivos.
Acredito que se nossos governantes pensasse assim, teríamos mais eventos esportivos, além do futebol em nossa cidade, e muitos eventos com esportes adaptados. Espero um dia poder ver nossa Belém mais evoluída no quesito esporte, pois esse sim seria um sonho realizado para muitos atletas daqui.
Debora Costa, é atleta da equipe All Star Rodas. Foi 15 vezes campeã consecutiva e participou de duas paralimpíadas (Pequim 2008 e Londres 2012), duas copas das Américas (Guatemala 2009, como vice campeã e Guatemala 2013, como campeã), foi medalha de bronze no Parapan em Guadalajara 2011 e cestinha da seleção na competição. Foi eleita também pelo Comitê Paralímpico a melhor jogadora de basquete sobre rodas do Brasil em 2011 e a quinta melhor do campeonato da 3ª divisão em 2015.